sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Crítica do filme HOMEM DE FERRO


Crítica feita por : Érico Borgo

Se tivesse que definir o filme do Homem de Ferro em apenas uma frase, provavelmente a empregaria comentando não a adaptação, mas sua produtora. Sim, porque o longa é um belíssimo começo para o Marvel Studios.

A gigante dos quadrinhos começa aqui uma promissora nova fase. Afinal, quem melhor para controlar o panteão de super-heróis com décadas de tradição que seus próprios responsáveis criativos? Ao assumir as adaptações de seu universo, a Marvel abre as portas para possibilidades diversas (a palavra "crossover", ou cruzamento de personagens, é a primeira que vem à mente).

Mais do que isso, a Marvel finalmente garante às versões das telas de seu universo o selo de qualidade com o qual estampa seus gibis. Nas mãos deles, um Elektra não teria acontecido, por exemplo. Tampouco um Motoqueiro Fantasma (espero). Isso porque não são executivos de Hollywood, sem conhecimento ou paciência para conhecer as tais "historinhas" que servem de base ao filme, no comando, mas bons e velhos nerds, no melhor sentido da palavra. E ao sair da sessão de Homem de Ferro fica a impressão de que não há nerds melhores que o diretor Jon Favreau e o time de roteiristas formado por Mark Fergus, Hawk Ostby, Art Marcum e Matt Holloway.

Pra começar, eles têm um entendimento excepcional de quem é Tony Stark e suas motivações, peneirando todas as suas fases e tirando daí para a competente trama de origem apenas o que há de mais interessante e guardando outros momentos importantes para a inevitável (e desejada, claro!) continuação. O bilionário da indústria bélica não é um herói no sentido convencional da palavra - nunca foi (ao menos quando bem trabalhado). Ele age como um herói visando o reconhecimento, saciando a própria vaidade, e não por altruísmo, como um Super-Homem. E o filme acerta esse aspecto na mosca.

Note como Stark só se envolve nos conflitos depois que eles o atingem de alguma maneira; ou como só decide sair de sua garagem, onde cria as incríveis armaduras que povoam o filme, depois de perceber que está sendo passado para trás. Stark é um vencedor, um cientista, um conquistador e, principalmente, alguém dificílimo de se relacionar. Tarefa árdua para qualquer ator, mas facilitada aqui pela presença de Robert Downey Jr., alguém que em sua celebrada carreira de altos e baixos tem todas as qualidades e defeitos acima. E ele faz a interpretação de Stark parecer um trabalho fácil…

Mas Downey Jr. é apenas a ponta de um elenco inspirado, que inclui uma contida Gwyneth Paltrow, um empolgado Terrence Howard e um sólido (ou seria "metálico"?) Jeff Bridges. Os protagonistas tratam a adaptação com seriedade, mas sem perder o tom aventuresco, meio "pulp" nostálgico e bem-humorado, que o seu diretor imprime. A seqüência na caverna dos terroristas é exemplo claro dessa linha, tanto pela narrativa, um ou outro exagero bem aplicado e o incrível visual (o especialista em efeitos animatrônicos Stan Winston acertou a mão outra vez na criação das realistas armaduras), que evoca os trabalhos do mestre dos quadrinhos Jack Kirby.

E mesmo quando o filme parece que vai descambar para um "momento com grandes poderes vêm grandes responsabilidades" o filme respeita seu público, evitando flashbacks, vozes-na-cabeça ou qualquer outro artifício gratuito. Stark segue um adorável escroto.

E para a alegria dos leitores de longa data, um caminhão de referências povoa a história. Vai da música do desenho animado sessentista do herói até um vislumbre do Máquina de Combate, passando pelo nascimento da organização S.H.I.E.L.D., a possibilidade da existência do clássico vilão Mandarim e outros detalhes que só quem é fã do herói deve pescar. Nada que limite o entendimento para quem está sendo apresentado ao herói só agora, mas um presente da Marvel a quem acompanha os quadrinhos. Justíssimo e, com o perdão da nerdice, merecido!

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